sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Haverá quem diga que é história de menina...

“Certa vez, eu tive um sonho”, me revelou a menina...
 
E no sonho, um anjo me contou que lá no lugar onde nascem as almas, Deus dava à luz mais uma delas. E, como todas as vezes que fazia isso, Ele soprou sobre ela a Sua imagem e Sua semelhança, pra que a alminha, que Ele acabara de criar, ficasse bem parecida com Ele. Só que, algumas vezes, Deus soprara com muita força e a alminha se dividia em duas, três... Isso, na verdade, sempre acontecia, dizia-me o anjinho, pois sendo Deus, assim tão todo-poderoso, era difícil pra Ele controlar sua força. E toda vez que ele soprava sobre as almas criadas, ele as dividia, pelo menos, em duas. “Mas, então, como Deus resolvia este impasse?”, eu perguntei. Ao que o anjinho do meu sonho respondeu: “De uma forma muito simples, que é por sinal, a forma como Deus sempre age. Em vez de uma alma, nascem duas, três, quatro, almas ao mesmo tempo. Simples assim”. “Esta é a maneira ilógica de Deus ser perfeito”, continuou o anjinho, implorando pra que eu não interrompesse mais a sua história. As alminhas gêmeas então se juntavam às outras e ficavam esperando o momento certo de serem enviadas e encontrarem uma casa aqui na Terra. “Uma casa aqui na terra?”, tive vontade de perguntar. Mas, antes que eu começasse a falar, ele me olhou com ar de reprovação e danou a tagarelar. “Sim, uma casa”. Deus fica esperando o momento exato em que uma criança começa a se formar no ventre de sua mãe, faz um milagrezinho, e dá um jeito de enfiar a primeira alminha da fila dentro daquele novo ser que começa a crescer dentro da barriga da mãe. A casa das almas aqui na Terra, dizia-me então o anjo, é o corpo humano onde elas plantam aquele sopro que receberam de Deus, trazendo, assim, pra dentro de cada ser um pouco da mesma essência que Deus tem dentro de si. Antes que eu me atrevesse a perguntar, o anjinho impaciente tratou de me revelar que, no momento em que as almas entram em suas casas, o anjo da guarda coloca o indicador sobre a boquinha da criança, pedindo silêncio sobre essa história. Por isso, a gente esquece tudo e ainda fica com essa covinha bem entre o nariz e a boca. “Mas onde é que eu estava mesmo?”, me perguntou meu amigo celestial. E, sem dar tempo para resposta, continuou: “Ah, sim”. Aquelas tais alminhas, que Deus tinha acabado de criar, vieram parar aqui na Terra e, então, foram morar cada uma em sua casa. E, assim, caminharam por estradas muito diferentes e distantes. Cresceram. Seguiram seus destinos. Viviam na busca incessante da Felicidade, que é uma coisa que toda alma tem mania de fazer, até que, certo dia, elas se encontraram na mesma estrada. Entreolharam-se e reconheceram-se. Naquele momento, sentiram que existia algo de especial entre elas. Não repararam a cor de suas peles, o valor de suas riquezas, muito menos, as diferenças de credo ou sexo. Foram tomadas apenas por uma imensa alegria em seus corações. Sentiram uma paz inexplicável. Uma sensação de plenitude, de preenchimento total, de que nada mais lhes faltava. A partir desse dia, seguiram caminhando de mãos dadas. Cada uma delas, sem perceber, acabou por esquecer a mania de buscar a sua própria felicidade, e passou a se dedicar à promoção da felicidade da outra. Nos momentos difíceis, as almas se apoiavam, suportavam uma à outra. Compreendiam-se. Doavam-se. Amavam-se cada vez mais. E, como que num encanto, elas tornaram-se um único ser novamente. E seguiram o caminho que as fizeram reencontrar aquela Fonte Inesgotável que as criou gêmeas, cumprindo, finalmente, sua missão de almas criadas por Deus. O anjinho, com as duas mãos entrelaçadas, com aquela cabecinha meio de lado, e com os olhinhos revirados pra cima, suspirou e concluiu: “Encontraram enfim a tão esperada Felicidade”. Eu bati palmas, entusiasmada. Ele me olhou espantado e disse: “Se você ainda não encontrou a sua alma gêmea, trate de procurá-la. Não desista nunca! Ela pode habitar o coração de um amor, de um amigo ou de uma amiga, de alguém da sua família, de uma irmã ou de um irmão, de mesmo sangue ou não. Essas pessoas que tornam a caminhada aqui na Terra mais leve e suportável. Quando encontrá-la, dedique-se a fazê-la feliz e, quando menos esperar, perceberá que quem é mais feliz é você mesmo.” Eu fiquei pensativa, distante. Ele, com aquele seu jeitinho sutil, me deu uma sacudida, e eu acabei acordando. Mas não sem antes ouvir suas últimas palavras: “Os sonhos se fazem realidade à medida que acreditamos neles”.

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