domingo, 15 de janeiro de 2012

Coisas sobre a chuva...

As chuvas de verão sempre me inspiraram. Dias de céu azul me fascinam pela beleza das cores, mas dias de temporal me impressionam pela força da natureza e pela capacidade que ela tem de se refazer.

Sempre fiquei impressionado com a rapidez com que uma tempestade de verão pode se formar e depois ir embora. Eu adorava ficar na varandinha da casa de meus avós, observando esses dias de tempestades de verão. Às vezes, o céu estava lá naquele azul intenso, pouquíssimas nuvens. E, lá bem longe, a gente via o morro do Corcovado e o Cristo de braços abertos. De repente, o vento começava a soprar forte e as nuvens iam se acumulando, como se fosse um espetáculo de dança, cada uma correndo e se colocando em seu devido lugar. O céu fechava completamente, cheio daquelas nuvens cinzentas e carregadas. O Cristo parecia ter sumido. Era como se a noite tivesse perdido a hora e estivesse chegando afoita pra cumprir sua rotina. No meio das nuvens, de vez em quando, avistavam-se relâmpagos que pareciam rasgar o céu. E, logo depois, ouviam-se então os estridentes trovões. Daqueles de estremecer o coração da gente. E, lá de dentro da casa, ouvia-se minha avó a suplicar pela proteção de Santa Bárbara. Em questões de minutos, aquele dia de céu azul arrebatador se transformava numa noite cinza, nublada e tristonha. Por mais que eu já tivesse visto inúmeras vezes, eu sempre teimava em acreditar que era possível que aquilo se dissipasse. De repente, começavam a cair aqueles pingos grossos, que iam salpicando cada vez mais rapidamente a cerâmica avermelhada da varanda. Meu avô logo aparecia com rodo e panos pra conter a chuva que inundava a área da casa. A chuva caía e lavava tudo, levava tudo. Eu adorava vê-la passando. E eu ficava mesmo era impressionado com a rapidez com que aquela noite ia se desfazendo e as nuvens iam novamente se espalhando, saindo de cena. E novamente o céu azul ressurgia. Era como se as nuvens plúmbeas ou a noite precoce, num ar resignado e impotente, abrissem alas aos raios brilhantes do astro rei. Aqueles primeiros raios ainda encontravam a garoa fina e um arco-íris multicolorido cortava o céu de fora a fora. Era a vida ressurgindo como antes. A felicidade que se renovava. Tomei aquilo como ensinamento pra vida toda. Sou de ter esperança em dias melhores. Sou de acreditar que o tempo vai melhorar. Mas a vida às vezes nubla de tal maneira, que parece que a gente não vai suportar o tempo que leva para o sol reaparecer. Há dias que parecem noites intermináveis. Mas, fato é que o céu azul sempre reaparece e perdoa-nos a falta de esperança!



E na primeira mordida, lembre-se daquelas tardes chuvosas na casa da vovó, na casa da sua infância.

Lembre-se da mamãe pegando cada colherada, jogando na panela. Os bolinhos corando, caindo no açúcar, e a gente já passando pela cozinha pra pegar. A mamãe ralhando, pois só podíamos comer quando todos estivessem prontos.

Lembre-se daqueles dias em que estávamos todos juntos, amontoados embaixo do cobertor, rindo, implicando uns com os outros. Papai dormindo sentado no sofá. A TV ligada no futebol, e quando a gente ia trocar de canal, ele resmungava e dizia: “ei, to vendo”.

Só mesmo os domingos chuvosos, a saudade da infância, da família reunida, nos fazem capazes de transformar farinha de trigo, leite e açúcar em felicidade, em poesia.






Um comentário:

  1. 1) O que a gente precisa
    É tomar um banho de chuva
    Um banho de chuva...

    http://letras.terra.com.br/vanessa-da-mata/116786/

    2) Ressentimentos passam com o vento
    São coisas de momento
    São chuvas de verão

    http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44707/

    3) Chove chuva, chove vem lavar esta saudade.
    Leva do meu peito as lembranças que me invadem
    Chove chuva, chove vem lavar esta saudade.
    Lava do meu peito as lembranças que me invadem

    http://letras.terra.com.br/joao-bosco-viniciusacustico/1764793/

    4) São as águas de março
    Fechando o verão
    E a promessa de vida
    No teu coração...

    http://letras.terra.com.br/elis-regina/63477/

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