domingo, 3 de fevereiro de 2013

Estamos fadados ao Equilibrio. Não há como fugir!

Pode parecer tolice, coisa de louco, pensamento de nerd ou sei lá o quê, mas é muito reconfortante perceber que existem leis que regem o universo e seus processos físico-químicos. De fato, quando a gente se dá conta desta obviedade, a vida parece ter algum sentido. A forma como as coisas se repetem, os ciclos vitais, demostram que por mais complexa que seja a vida, ela não é aleatória. E isso é bom. A vida, o universo tem suas leis, seus princípios inabaláveis. 

Como professor de físico-química há algum tempo, quando explicando aos meus alunos alguma lei qualquer da termodinâmica ou, por exemplo, um processo eletroquímico qualquer, por diversas vezes, já me peguei pensando no quanto tudo isso é fascinante, o quanto tudo isso pode nos deixar mais seguros diante da complexidade da vida. A ciência pode nos trazer soluções, pode nos ensinar a viver, a encarar os problemas, a crer na solução deles. Existe um caminho natural, espontâneo, para tudo, podemos de fato confiar. Podemos confiar sempre nas leis da físico-química. Pelo menos dentro das condições a que estamos submetidos naturalmente. Não precisamos nos preocupar, por exemplo, que em algum momento, ao respirarmos ar, não haverá transformação química que nos forneça energia, pois sempre que o oxigênio reagir com a glicose nas condições de nosso organismo, haverá formação de gás carbônico e água, através de uma reação espontânea e, portanto, geradora de energia. Pode parecer idiotice, mas imaginem se isso não fosse verdade. Se houvesse a possiblidade da aleatoriedade, a possibilidade da reação ocorrer ou não. Podemos confiar que toda vez que uma placa quente tocar uma placa fria, o calor se transferirá da placa quente para a fria até que uma temperatura intermediária e de equilíbrio seja atingida. A água de uma cachoeira sempre vai de cima pra baixo, um pneu furado sempre esvaziará, nunca encherá a ponto de explodir, apesar de tanto ar do lado de fora. Mas que conclusão óbvia? Sim, óbvia porque há leis que regem este nosso universo. Leis que se repetem e nas quais podemos confiar. 

Apesar de buscar sempre a condição mais desordenada, os sistemas desejam o equilíbrio. O equilíbrio é inexorável. A condição mais estável é aquela a que somos levados a atingir naturalmente. E isso é ensinamento valioso, quando concluímos que o que se estabelece em processos micro ou macroscópicos, certamente, se repete também em nossas vidas. Não há como fugir disso. É interessantíssimo quando nos damos conta deste fato. Pois, a forma como estamos inseridos nesse contexto, o cotidiano, acabam por banalizar essa capacidade que o universo tem de se repetir, de manter princípios sólidos que regem suas transformações, das mais simples às mais complexas. Tudo nos parece normal demais, pois não nos surpreendemos mais com nada. Acostumamo-nos com o milagre da vida. Às vezes, me pergunto, por exemplo, como podemos não nos surpreender diante de um filete de água ao abrimos a torneira? Como não nos espantamos mais com esse líquido que não tem cor, não tem cheiro, não tem sabor, mas que existe, que é palpável, que escorre pela nossa garganta e alivia-nos a sede, refresca a pele, revigora. Como não nos surpreende mais o fato dessa mesma água congelar sempre à mesma temperatura, na pressão atmosférica, e que essa transformação se dê sempre da mesma forma, da superfície para o fundo, diferentemente de todos os outros líquidos, ou que seja necessária sempre a mesma quantidade de calor para fazê-la atingir sua temperatura de ebulição e se tornar vapor. Como não nos surpreendemos mais com o ar, invisível aos olhos, que penetra nossas narinas a cada segundo, atingindo nosso interior e provocando as mais diversas reações químicas essenciais à vida. Como nos acostumamos a ver o fogo com sua chama multicolorida, aquela energia toda gerada numa simples transformação química. Não seria isso um milagre? Como não fazemos mais a mesma festa, como não temos mais a mesma reação que tiveram nossos antepassados quando o viram pela primeira vez? Como podemos conviver com a ideia da terra a nutrir a semente, e permitir que aquela informação genética milagrosamente armazenada seja transmitida e as transformações se realizem a ponto de gerar a vida, criar raízes, fazer crescer a planta, que dará frutos e fornecerá as mesmas sementes novamente? Uma semente de mamão sempre dará origem a um mamoeiro, nunca a um pé de laranja ou de manga. Mas que ridícula essa conclusão, não é mesmo? Como podemos aceitar isso, sem achar tudo isso incrível, espetacular? Em algum momento, ficávamos muito curiosos com o fato de uma semente de feijão, colocada num pedaço de algodão umedecido, se rompesse e dali surgisse um caule, que crescia, gerando folhas, e quem sabe novas sementes, que ao caírem na terra, repetiriam o mesmo e exclusivo ciclo. Sim, quando éramos crianças, ainda achávamos isso fascinante, ficávamos horas a fio observando a vida a se transformar. As leis da natureza seguindo seu curso espontâneo. A água, o gás carbônico, as enzimas, os cloroplastos a absorverem a luz do Sol, a fotossíntese a construir moléculas e mais moléculas, silenciosamente, enquanto a criança dormia ao seu lado sem se dar conta do milagre do grão que germinava sem saber de ciência alguma. 

Concluí que não podemos perder esse olhar a respeito das coisas, não podemos deixar de nos surpreender, de aplaudir o milagre da vida. E mais do que isso, devemos de fato confiar nas tais leis da termodinâmica, nas leis que regem o universo, que estão nas transformações mais óbvias, que em algum momento se tornaram banais no nosso dia-a-dia, mas que vivem a nos gritar que tudo se resolverá, que tudo há de encontrar o EQUILÍBRIO, tudo se tornará mais estável. Não há como fugir, disto! Portanto, tenhamos fé no Princípio de Le Chatelier, porque desde que o mundo é mundo, o equilíbrio pode ser perturbado, mas não há nada que possa impedir que ele se reestabeleça. Mais cedo ou mais tarde. É só ter calma, é só esperar.


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